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Caetano e Gil acharam liberdade fora do Brasil |
Dizem que "Ou a gente passa o tempo, ou o
tempo passa a gente". Para alguns ícones de nossa cultura, o tempo não
passou por eles. O tempo atropelou, deu ré, passou de novo, e foi embora
esmagando o que restou. No caso, não foram atropelados seus corpos que, na
maioria, estão na sétima década de vida, mas sim suas consciências, que um dia
cunharam clássicos como "Eu digo não ao não" e "Afasta de mim
esse cálice".
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Biografias não autorizadas geralmente são as melhores |
Por exemplo: seria triste lermos uma biografia de Che Guevara que
mostrasse sua preocupação social, sua inteligência, carisma, boas intenções,
mas não revelasse sua participação em tribunais de execução ou suas opiniões
alicerçadas na base da violência. Como seria chato ler sobre Fernando Henrique
Cardoso, conhecer seu perfil estadista, a habilidade política, seu casamento
feliz com a Dona Ruth, e não sabermos que ele tem um filho com uma
ex-jornalista da Globo e que mora com a mãe na Europa.
Coisas assim, só sabemos
porque ainda se pode escrever sobre isso, falando de histórias de alcova que os
biografados não gostariam que viessem à tona. Mas, para os medalhões da MPB,
isso agora tem que ser proibido. O problema é que isso é censura, obscurantismo. Além disso, não há nada mais chato e inútil do que ler a história
de alguém do jeito que esse alguém quer que ela seja, com deslizes calculados,
sucessos aumentados, escândalos encobertos, enfim, um panfleto chapa-branca.
O que aconteceu com a
cabeça desses artistas? O que mudou nos princípios defendidos nos anos 60? A
resposta é simples e triste: dinheiro. Naquela época ainda não eram ricos. Hoje
são, mas querem mais. É isso que move o interesse deles em proibir essas
biografias. Paula Lavigne, ex-mulher de Caê e porta-voz da associação diz:
"pessoas públicas também têm direito à intimidade e vida privada". Concordo. Mas, depois ela fala o que interessa pra eles: "se alguém quiser
escrever uma biografia e publicá-la na internet sem cobrar, tudo bem. O
problema é lucrar com isso". Que coisa não? A vida exposta de graça não
ofende a intimidade do artista, mas se cobrar ofende? Pelo jeito, só ofende
porque não pinga na conta deles também.
Djavan chegou a dizer: "editores e biógrafos ganham fortunas enquanto aos biografados resta o ônus do sofrimento e indignação". Talvez Djavan não saiba, mas biógrafos geralmente são jornalistas que pesquisam por anos e anos, entrevistando dezenas de pessoas, levantando arquivos antigos, investigando entrevistas já realizadas, revistas, jornais, filmes e tudo que diga respeito ao biografado. É um esforço desgastante. Editoras são empresas que precisam se manter vivas num mercado acirrado, em um país em que quase 50% das empresas fecham após três anos. Logo, é claro que eles ganham dinheiro com isso. Alguém trabalha, alguém paga, alguém compra. Se o biografado não gosta do que dizem, processe por dano moral! A Lei pra isso já existe.
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Paula Lavigne adoraria ter nascido em outra época |
“Vamos correr o risco de estimular biografias
sensacionalistas”, disse Paula Lavigne. Só que esse é o melhor risco, típico de
democracias. "Ninguém pede para ler antes o que é publicado em
jornais", lembrou Sônia Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos
Editores de Livros. E jornais são vendidos, inclusive os sensacionalistas.
O que dói em nossas almas é ver os heróis da MPB, sujeitos discutidos e biografados, outrora perseguidos e presos por causa de sua expressão de liberdade, agora querendo censurar a liberdade dos outros. E não pela honra, mas por dinheiro. Uma postura que mistura o totalitarismo de Stalin com o capitalismo selvagem de Murdoch: o pior dos mundos. Sempre achei burrice gente que nasce, cresce, reproduz e morre, tendo exatamente as mesmas opiniões sobre tudo.
Mudar de ideia, muitas vezes, é sinal de maturidade e humildade. Mas, corromper princípios, no caso a liberdade de informação e expressão, não é saudável nem inteligente. Tenho esperança de que esse chilique ditatorial mercantilista, reacionário, mal disfarçado de resguardo pela moral e ética, querendo inibir a sociedade, dê com a cara na porta da Constituição, que garante a liberdade de trabalho dos biógrafos e editores. Afinal, Chico, Caetano e companhia: “apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia, la laiá la laiá”.
O que dói em nossas almas é ver os heróis da MPB, sujeitos discutidos e biografados, outrora perseguidos e presos por causa de sua expressão de liberdade, agora querendo censurar a liberdade dos outros. E não pela honra, mas por dinheiro. Uma postura que mistura o totalitarismo de Stalin com o capitalismo selvagem de Murdoch: o pior dos mundos. Sempre achei burrice gente que nasce, cresce, reproduz e morre, tendo exatamente as mesmas opiniões sobre tudo.
Mudar de ideia, muitas vezes, é sinal de maturidade e humildade. Mas, corromper princípios, no caso a liberdade de informação e expressão, não é saudável nem inteligente. Tenho esperança de que esse chilique ditatorial mercantilista, reacionário, mal disfarçado de resguardo pela moral e ética, querendo inibir a sociedade, dê com a cara na porta da Constituição, que garante a liberdade de trabalho dos biógrafos e editores. Afinal, Chico, Caetano e companhia: “apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia, la laiá la laiá”.
Um comentário:
Um dia todos nós envelhecemos, e é nessa hora que a "transformação pela renovação da mente" começa a fazer sentido. A mente também envelhece!
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