terça-feira, 7 de agosto de 2012

Mudou a cor da grama


Pode parecer idiotice. Mas a verdade é que estou tão acostumado com a cultura da Rede Globo aberta que se a Olimpíada não passa lá, parece que não está acontecendo de verdade. Fica distante. A Globo e o Galvão Bueno estão cobrindo a Olimpíada via Globosat, mas não é a mesma coisa. 

Lá, com seus convidados, parece que ele está no quintal, no lavabo, não é como se estivesse na sala de visitas agitando, gritando, esperneando e fazendo o povo brasileiro virar uma torcida de verdade, com sentimento e sofrendo por seus atletas. Ele é chato? É. Mas não há locutor com maior empatia com a nação brasileira do que ele... Gostem ou não.

O brasileiro nunca foi muito entusiasta de esportes olímpicos, mas aos poucos essa tradição vem crescendo. Prova disso é que as últimas duas Olimpíadas tiveram as duas maiores delegações brasileiras enviadas aos jogos: em Londres são 259; na China eram 277. E, se tem alguma emissora com papel determinante no processo de “olimpização” brasileira, é a Globo. A Record, detentora dos direitos na TV aberta, está fazendo uma cobertura ok. Acho ótimo que eles melhorem cada vez mais e representem uma alternativa na TV aberta, empurrando a Globo na parede. Mas, ao mesmo tempo, fico feliz em saber que a Copa do Mundo de Futebol será transmitida pela Globo em 2014, 2018, 2022. Se não fosse pela qualidade profissional dessa emissora mundialmente reverenciada, diria que “globodependência” é quase psicológica.

Atmosfera olímpica

Galvão. Ele mesmo.
Galvão. Ele mesmo.
Uma questão de tradição. Enquanto telespectador, a informação pode ser conseguida do mesmo jeito, na internet, ou depois de achar a Record na TV (em casa, seria canal 519? Alguém sabe de cor?). Mas quando a informação está na Globo, parece que ela vem até você, e não o contrário. Por aí, a gente ouve alguém perguntando: “Você viu o brasileiro no judô?”, e a resposta é quase sempre “não”. Parece que ninguém está vendo nada mesmo! Mas, se fosse na Globo...

O que faz diferença nesse caso não é necessariamente ter o Galvão ou uma estrutura jornalística invejável, mas, sim, ser top of mind, líder absoluta em audiência em praticamente todos os horários do dia, principalmente quando passa suas novelas esterotipadas, piegas e apelativas. As televisões são ligadas e, em geral, o primeiro canal visitado é o da Globo. Ou seja, se ela quiser, faz o povo abraçar as Olimpíadas, o que é muito mais saudável para a diversidade de modalidades esportivas do que meter goela abaixo esses trogloditas do UFC e futebol acima de todos os esportes. (In)felizmente, as Olimpíadas 2012 estão nas mãos da Record, mas até que ela se torne páreo ou lidere as preferências, queria mesmo é curtir a atmosfera olímpica que a Globo teria maior sucesso em criar.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Quem precisa de uma SUV?


Rotina de quem tem uma SUV...
Rotina de quem tem uma SUV...

Perguntas rápidas: será que o mundo tem mais espaço sobrando hoje do que há 50 anos? As cidades estão mais vazias hoje do que há 50 anos? Existem mais recursos naturais agora do que antes? Nem precisa pensar muito né? A resposta é não! A ocupação de espaço pelo homem não está mais ordenada ou justa a cada dia que passa, infelizmente. Como consolo, sabemos que milhares de pessoas engajadas (todos deveríamos ser) gastam energia, dinheiro e tempo para protestar e combater atitudes que não prezem pelo bom senso em relação aos rumos do planeta. 

Graças a Deus, baleias, golfinhos, araras azuis, mangues, bromélias, castanheiras, jequitibás e demais seres vivos em extinção têm que os defenda. Mas, enquanto isso, na vida urbana, outra grave praga vem agindo na contra-mão da história e da civilização: os carros grandes. É isso mesmo. Carros, os grandes. Aqui usei de eufemismo, porque na verdade estou falando de verdadeiros gigantes sobre rodas. Banheiras gigantescas, quase deformadas e desproporcionais que chegam a quase cinco metros de comprimento por dois de largura. Medidas de um razoável dinossauro triceratops. Nesses “carros” podem até caber sete pessoas, mas é quase impossível achar algum andando por aí com mais de duas. É a febre dos SUVs (Sport Utility Vehicle) que dominou corações, mentes e ruas. 

Tudo bem, tudo bem... Podem justificar dizendo que são carros para viver na cidade e também encarar terra e lama. Aham, sei. Mas afinal, todos os que têm SUV são do tipo aventureiros e vivem em terras alagadiças? Uau! O ecoturismo deve realmente estar em alta! Convenhamos, a maioria das pessoas (não entram na lista famílias realmente grandes e fazendeiros genuínos) compra SUVs por um desses três motivos: 1) Querem aparecer com uma geringonça enorme nas ruas. 2) Pretendem compensar a reduzida dimensão de algum órgão do próprio corpo. 3) Porque se rendem àquelas toscas propagandas em que o carro vem todo selvagem, abrindo picadas na mata, derrapando na lama, saltando crocodilos e pula nervoso em uma estrada asfaltada, pronto para correr em direção a uma cidade completamente vazia que está no horizonte, desenvolvendo 150 km/h (velocidade proibida até em estradas), desfilando toda sua testosterona. Realista não é mesmo? Parece piada, mas funciona pra muitos. Ok. Você gosta? Acha bonito? Tem dinheiro? É um fetiche?

Esse aí já ganhou de todo mundo
 Compre e seja mais um a ocupar quase uma faixa e meia nas já abarrotadas ruas de São Paulo. Seja mais um a impedir com seu tamanho que as motos passem livres pelos corredores. Seja mais um a impedir que a pessoa do carro estacionado ao lado tenha o direito de abrir a porta. Seja mais um a estacionar em seu prédio e deixar ou o bico ou a bunda do carro para fora, atrapalhando a passagem de todos os demais. E pra seu próprio benefício, seja mais um a rodar horas até achar uma vaga para jamantas estacionarem por aí. Sem falar que essas coisas são tão altas que, como disse um amigo meu, devem provocar vários atropelamentos e nem percebem, porque não dá pra enxergar quem está embaixo. 

Todo esse drama não é apenas a perspectiva de quem acha que certos sãos os europeus, com carros pequenos, práticos, ágeis, realmente inteligentes. As cidades realmente não precisam de SUVs (apesar de as montadoras continuarem a querer mais dinheiro) e na verdade nem quem às têm realmente precisam delas. As cidades estão superlotadas! Metrôs, ônibus, ruas, avenidas, todos temos que nos espremer em algum momento para ir de um lugar a outro. Logo, aumentar a pressão e comprar um carro do tamanho de dois só pra satisfazer o status egocêntrico é lamentável. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), São Paulo tinha, até abril, 7.259.834 veículos tentando se deslocar pela cidade, e aí vão carros normais, ônibus, caminhões, reboques, camionetas, caminhonetes, motos diversas etc.

E aí, cabe mais um... bem grande?
O Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran) diz que, na Capital, a velocidade média no horário de pico das manhãs de 1980 era de 27 km/h. Em 2008 caiu para 17 Km/h. A média anual de congestionamentos nas manhãs, em 2001, era de 71 Km. Em 2011 já chegamos a 80 km. Ou seja, continuando esse ritmo, a coisa toda vai parar de vez em uns 15 anos. 

Diante dessa maçaroca toda, enquanto movimento pró-bicicletas e ciclovias luta pra ganhar espaço e otimizar a vida no asfalto (além de contribuir com zero emissão de carbono), vem alguém e conclui: “não preciso de tanto espaço no carro, mas vou comprar um carro gigantesco assim mesmo. Tá na moda e impressiona as gatinhas”. Isso é praticamente um crime! Esse mesmo tipo de egoísmo é o que impede países ricos de abrir mão de seus lucros e investir dinheiro em países em desenvolvimento. É o egoísmo que faz as madeireiras seguirem acabando com a Amazônia e Mata Atlântica, só pensando no lucro rápido. Se você tem um SUV porque realmente cruza zonas rurais ou porque sua família é realmente grande, menos mal. Mas se você tem um desses por algum desses outros motivos, pare e pense, pelo menos: “preciso mesmo disso?”.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Polêmicas na rede


Redes sociais são um fenômeno popular do século XXI. Um sucesso absoluto de comportamento, passageiro ou não, em todo o planeta. Mas, na verdade, o show não está nos sites em si ou nas ferramentas, mas sim nas pessoas! São elas que movimentam tudo e dão vida para essas redes (aliás, por isso sou contra o termo “orkutização”, já que o que acontece é a “internetização das pessoas”, mas essa é outra discussão...). 

Voltando, pelo que observo, a vida na rede social anda movida principalmente por polêmicas, de todos os tipos. São provocações sobre futebol, cor, origem, preferências de todos os tipos e, uma que particularmente me atrai: fé. Para se ter uma ideia, existem páginas no Facebook como a “Anti-ateísmo”, assim como “Ateus do Brasil”, “Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos” e derivadas. Essas páginas são criadoras de pequenos memes que, basicamente, provocam o grupo contrário. A minha orientação me levou a “curtir” uma dessas páginas, e passei a ver constantes atualizações dos moderadores. No começo, eu havia gostado muito. Fiquei interessado, senti como se fosse membro de um partido político e compartilhando opiniões com milhares de outros militantes, unidos em torno de uma ideia e prontos para combater os “adversários” com argumentos, argumentos e mais argumentos. Todos irrefutáveis e, provavelmente, chatos. 

Depois de um tempo acessando as publicações, cheias de ironias, fotos de filósofos (ora usados por um grupo, ora por outro) acompanhadas de suas frases (altamente contestáveis) e, principalmente, depois de ler os comentários em cada uma delas, tirei a opção de ver todas as atualizações. Alguns dias depois, acabei desfazendo minha ligação com o site.

Cheguei à conclusão de que um debate virtual sobre fé, daquele jeito, fomentado por moderadores com informações tiradas sabe-se lá de onde, reforçando conceitos muitas vezes carregados de preconceito, apontando para gente que não sei nem quem é, não chegará a lugar nenhum. Jamais. É um desgaste inútil de vida. Não vale a tecla. Mas o chato é que alguns de meus contatos estão nesses sites, compartilham aquelas coisas de novo, e acabo lendo.


A última que chegou estampava uma foto de Darwin, dedo em frente ao rosto exigindo silêncio, com uma apresentação: “Contra o obscurantismo medieval e pós-moderno – Então você refuta a Teoria da Evolução? Conte-me sobre todos os livros sobre o assunto que leu, todos os debates que participou, todos os artigos científicos publicados e sobre os ‘métodos científicos’ que você anda usando!”. Vamos supor que alguém resolva colocar lá a bibliografia lida (154 livros), debates (35), artigos publicados (14), método: o científico. Isso iria resolver a polêmica? Jamais.

Pois é, as polêmicas talvez nunca morram, e eu não perco a chance de discutir uma. São úteis e ajudam a construir os pilares sobre tudo o que você acha sobre o que quer que seja. Mas aí vai uma diferença: se vai discutir algo, saia da rede social e troque a ideia cara a cara, frente a frente, olho no olho, argumentando com o que você sabe e está na sua mente, com respeito, autocontrole e vendo a reação do seu interlocutor, mudando de ideia ou não. Essa polêmica é saudável e todos saem ganhando (até quando saem perdendo). Como diria Sócrates: “Só sei que nada sei”.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A corrupção me pegou



"Crime, futebol, música... Também não consegui fugir disso aí. Eu sou mais um". Mano Brown, o maior poeta do rap nacional, apesar de contrariar as estatísticas e representar uma rara voz da periferia (apesar de atualmente evitar esse peso) também reconheceu sua fraqueza humana. Pois, com as devidas proporções guardadas e ciente de que nunca fui santo, lamento informar: a corrupção me pegou. Também sou mais um. Passei anos de minha vida vociferando contra aqueles que compram CDs piratas, furam filas, enganam o Fisco, não devolvem troco errado (pra mais), são dispensados do Exército porque o tio é coronel e, principalmente, falsificam carteirinha de estudante! Este último é o crime que compartilho e confesso, torcendo para que nenhum produtor de show ou dono de rede de cinema leia esse texto. 

A maioria vai pensar "ah, só isso? Todo mundo tem". Pois é. O problema é que sou da opinião de que nenhum Carlos Cachoeira nasce empresário de contravenção. Tudo começa num pequeno e banal gesto e aos poucos as proporções crescem, mas o botão mental do delito já está apertado. Quando reclamamos dos políticos corruptos, vagabundos e caras de pau, não estamos xingando alienígenas mutantes, estamos xingando gente da gente. Brasileiros como nós, que dão um jeitinho quando têm chance, num é mesmo? E em Brasília, as chances são muitas. Mas, e sempre tem um "mas", depois de tanto ouvir um argumento, ele começou a convencer meus neurônios anticapitalistas, e eles fizeram mais sinapses na minha cabeça do que os neurônios morais.


Os últimos shows que me interessaram e deixei de ver por causa do preço, em São Paulo, custavam todos cerca de R$ 200, no mínimo, pelo menos para não ficar sentado atrás da pilastra ou de costas para o palco (o descaramento é tanto que divulgam ingressos com “visão parcial”... Desrespeito total com o público). E peças de teatro então? Basta ter um ator global no casting que os preços chegam a R$ 80 facilmente. E depois aparecem por aí, inclusive esses mesmos atores, dizendo que é preciso estimular a ida ao teatro. Como? Cobrando um valor fora da realidade? Surgem até aqueles dizendo que o povo não gosta de cultura. Gosta sim! Basta ver o sucesso da Virada Cultural para ver se o povo não gosta. Não que tudo tenha que ser gratuito, gostamos de pagar artistas que merecem, mas queremos pagar o que é justo!

Podem me dar todas as justificativas matemáticas das margens de lucro de um, de outro etc. E sabemos como grandes produções podem ter custos mais altos. Sabemos também, que um bom CD, bem feito, bem gravado, bem promovido e distribuído pode ser vendido tranquilamente a R$ 15. Mas há CDs simples, com dez músicas, que custam até R$ 60! Pra piorar, os impostos que influenciam toda essa indústria cultural também nos esfola todo dia em produtos e serviços que pagamos. O Brasil tem a 14º maior carga tributária do mundo, e entre os 30 países que mais cobram, temos o pior desempenho em retorno de serviços públicos à população, isso segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Diante dessa insanidade legal e criminosa de empresários que exploram e sugam o dinheiro suado do trabalhador honesto (afinal, trabalhador honesto raramente fica rico), fui convencido a ter minha carteirinha de estudante, não sendo mais estudante, lesando em percentagens milésimas todo esse sistema. É minha contradição: sou corrupto, mas sou contra.