quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Juízes querem justiça, mas não contra eles


Raul Seixas cantou que a solução era alugar o Brasil. Naquele tempo, éramos mais dependentes da economia internacional do que hoje. Todo mundo pensava que a injeção de dólares resolveria os nossos problemas. Hoje, com o País estabilizado, moeda forte, inflação (quase des...) controlada e palco de Copa do Mundo e Olimpíadas, dinheiro definitivamente não é mais o problema, e sim sua gestão. Nesse quesito, é natural apontar a culpa para nossa digníssima classe política que, diariamente, vomita coisas como as “famiglias” Rorizes e Sarneys bem na boca da gente, sem o menor constrangimento. Somos feitos de idiotas, palhaços, trouxas, todos os dias, e assim vamos levando... 

No Brasil, a presidente Dilma Rousseff, por sua iniciativa ou não, vem sendo bem mais intolerante do que todos os presidentes anteriores (sim, todos) no que se refere à corrupção nos altos escalões do Governo. Nos primeiros 12 meses de governo, sete ministros foram demitidos. A rédea dela é mais curta. Dilma faz isso de maneira arriscada, pois ser intolerante com todos poderá fazer com que esse “todos” paralise o governo, e ela fica isolada, fraca. É o que acontece quando realmente se pratica a intolerância diante de um caso de corrupção descoberto.


Essa tal faxina é um ato de extrema coragem, tem alto valor histórico e emblemático. Ela tenta mostra que o País não vai mais aceitar roubalheira, palhaçada, vagabundagem no Poder. Roubou? Sai. Facilitou? Sai. Não sabe explicar? Sai. Tem que ser assim mesmo. Já é um começo. Mas, além dos políticos, acho que vale muito à pena começarmos a ver que, muitas, muitas vezes, quem nos faz de idiotas, sem o menor constrangimento, é o Poder Judiciário.

STF em outra realidade

Na total contramão dessa tendência, temos o nosso ilustríssimo Superior Tribunal de Justiça (STF), no qual 11 semi-deuses determinam os rumos dos temas mais polêmicos, desencadeando decisões similares em todos os tribunais do Brasil. Ou seja, o que sai dali, na prática vira lei. Só pra lembrar duas gigantes lambanças desses entogados hipócritas, covardes: 

1) Livraram o boa-praça, gente fina e exemplo de honestidade Jader Barbalho, de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, e ele assumiu seu cargo de senador tranquilamente, dia 28 de dezembro, em excelentes condições para exercer sua honestidade por mais oito anos (o que tem na cabeça dos paraenses?). Vão dizer que foi tudo dentro da lei, segundo o regimento etc. Mas será possível que ninguém percebeu que a lei é usada contra os interesses do País? Que foram usadas artimanhas legais para facilitar pro Jaderzinho? O STF não sabe que o cara é acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, desvio de verba pública, já foi até preso pela Polícia Federal e renunciou ao antigo mandato de senador pra não ser cassado (motivo da Lei Ficha Limpa)? Acham mesmo que ele pode ser um senador normal? Ou o que prevaleceu, de fato, foi a baixaria? Melhor assumir de uma vez. “Sim, somos corruptos, amigos dos amigos, juízes que decidem segundo critérios que não são os mesmo da sociedade, à qual tínhamos que servir”. Pronto. Seria mais honesto. 


Lambança número 2) Reduziram os poderes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), único órgão, além das corregedorias corporativistas chapa-branca, que pode investigar juízes. Órgãos de defesa dos juízes dizem que estão fazendo devassa. Podem usar o termo que quiser, mas investigar 270 mil magistrados, incluindo familiares (claro), é parte do processo de ver se há movimentações financeiras suspeitas. E afinal, quem não deve não teme, certo? Se acham que alguns receberam dinheiro a mais de uma antiga dívida trabalhista, então deixem-se investigar oras, até pra provar que não receberam! Mas, o CNJ já não pode investigar mais. Bom né? Esses juízes só nos enchem de orgulho...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O direito de Osama

O que será que acontece se eu for à Espanha, cometer um crime bem escabroso e sumir pelo mundo? Bom, provavelmente o exército espanhol vai me rastrear onde for, me achar e acabar com a minha vida. Simples assim. O que acontece se um marroquino vier ao Brasil, deixar bombas e causar centenas de mortes em São Paulo e desaparecer? Na mesma hora, nosso exército vai caçar o cara até achá-lo na Argélia e metralhá-lo, com o aval da Dilma. Interessante não é? Histórias assim poderiam ser adaptadas para o cinema, talvez como uma aventura do século XIX no velho-oeste norte-americano, em terras sem lei (e já sem índios). Será mesmo desse jeito que se resolvem crimes internacionais?

Quando um país age assim, fica claro um comportamento ignorante, retrógrado e abusivo. Afinal, existe a Interpol (polícia internacional) e diversos outros mecanismos que possibilitam a busca e prisão de criminosos multinacionais, a partir da cooperação de polícias, exércitos, embaixadas, e os países atuando em conjunto. Mas, para os Estados Unidos é diferente. Tudo bem, ninguém contesta a legitimidade da perseguição por Osama Bin-Laden durante dez anos em todos os cantos da Terra. O cara arquitetou ataques que, se levados a cabo integralmente, seriam mortos muito mais de 3 mil americanos. O barbudo malévolo mais sereno já visto (quem achar uma imagem de Osama com cara de mau, me mostre) deu um perdido fenomenal e conseguiu sobreviver por aí, incólume e impune por todo esse tempo. O que, no entanto, merece ser repudiado com toda a força (e a mídia não deu nenhum sinal nesse sentido, muito pelo contrário) é o fato de que Osama não teve a chance de se defender.

Bin-Laden: sorriso meigo
Calma! Antes que venham dizer que as pessoas que trabalhavam do WTC também não tiveram chances, respondo que tudo é uma questão de perspectiva. Para ficar num único exemplo: Em 29 de maio de 2011, um ataque de tropas americanas matou 14 civis inocentes na província de Helmand, no Afeganistão, incluindo duas mulheres e 12 crianças. Eles também não tiveram chances. Mas o que acontece em relação a um assassinato assim? Nada. O pobre presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, desabafou: “Já foi dito em repetidas ocasiões aos Estados Unidos e à Otan que suas operações unilaterais e inúteis causam a morte de afegãos inocentes e que tais operações violam os valores humanos e morais, mas parece que não escutam”. Não escutam mesmo. O mundo não considera pessoas que não são de países ocidentalmente civilizados como, propriamente, pessoas. São seres vivos menores, podem morrer aos borbotões. Não fazem diferença. Agora, se morrem europeus caucasianos, americanos, aí é um crime bárbaro. Queria ver se fosse aqui. Iríamos aceitar bombardeios gringos matando a gente numa boa?

Stay Puft

O século XX reservou uma lição para a humanidade quando foi palco da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, pois possibilitou uma resposta como o Tribunal de Nüremberg, mostrando como se faz quando a questão é punir de forma legal (Ok. Há controvérsias, pois foram atribuídos crimes que não eram tidos como tal à época. Mas, mesmo assim, justiça foi feita e provas não faltaram) gente que provocou crimes contra a humanidade, assassinatos em massa, escravização, pilhagens, entre outros. Essa história é roteiro de dezenas de filmes e documentários e, teoricamente, todos já tínhamos aprendido.

Nüremberg encerra festa nazista
Para os Estados Unidos, crimes são resolvidos como no tempo de Hamurabi: olho por olho, dente por dente. O povo da Arábia Saudita, Quênia, Tanzânia, Iêmen, Tunísia, Marrocos, Indonésia, Reino Unido, Egito, Jordânia e Argélia perderam a chance e o direito de colocar Bin-Laden no banco dos réus e participar de seu julgamento, em Haia, pois ele comandou crimes em todos esses lugares. Centenas morreram em cada um desses países. Os americanos não são pessoas especiais. Os EUA estão se parecendo, cada vez mais, com o Stay Puft, o monstro de marshmallow que aparece no filme Caça-Fantasmas. Tem a aparência meiga, mas é grande, bobo, desajeitado e quer matar todo mundo.

Apesar do exemplo americano de imperalismo, ignorância e desdém pelos outros povos, podemos olhar para a Sérvia e ver como o ex-general Ratko Mladic, ex-chefe militar dos sérvios da Bósnia e homem mais procurado da Europa, foi preso depois de 15 anos foragido, e será extraditado e julgado por crimes de guerra e genocídio (mais de 8 mil mortos, talvez mais do que todos os crimes de Bin-Laden) no Tribunal Penal Internacional de Haia. É disso que estamos falando! Temos que exaltar os sérvios, que passaram por atrocidades ao longo das décadas, mal experimentaram a democracia, e dão um banho de civilização.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Preconceito, homofobia e bullying. Tudo misturado


Polêmica é o sobrenome do debate sobre o homossexualismo. Não tem jeito. A polícia do “politicamente correto” impede muita gente de falar o que realmente pensa sobre isso, passando uma falsa impressão de que todos aceitam e ninguém é a favor das ideias do Jair Bolsonaro. É, na verdade, um tema alçado aos níveis do aborto, pena de morte e fé x ciência, no quesito “discussão sem fim”, principalmente no que diz respeito a saber se é uma questão de opção, decisão, ou sentimento inato. Há defensores de todas as teses e que estão em todos os times. Mas, como sou chegado a um belo debate desses que não acabam até alguém (talvez, por que não, eu mesmo?) se convencer, vou aqui cutucar mais uma vez esse vespeiro.

Antes, deixo clara aqui minha opinião resumida: Não sou apologeta do homossexualismo; não vou torcer para ter um filho que seja; não vou estimular; se tiver, vou aceitar com amor; sou contra preconceito pelo simples fato de alguém ser homossexual. Enfim, existe o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/06, que busca incluir a homofobia junto aos crimes de preconceito, aqueles que a gente lê na plaquinha dentro do elevador. Querem evitar manifestações ligadas a isso, o que é altamente justificável. Mas, todo mundo sabe que quanto mais específicas forem as leis, mais específico será o tratamento e mais específico será o olhar da sociedade sobre os beneficiados. Incluir o termo “homofobia” na lei, portanto, não vai mudar absolutamente nada.

Se formos seguir essa lógica, deveriam então incluir na lei o termo “baianofobia”, que são altamente discriminados em São Paulo. Deveriam colocar “paraíbofobia”, no Rio, pelo mesmo motivo. Incluam logo “bolivianofobia”, “judeufobia” (aí já tem uma palavra só pra eles), “branquelofobia”, “gordofobia”, “magrelofobia”, “carecofobia”, “tímidofobia”, “estranhofobia”, “paraplégicofobia” etc. É enorme a lista das vítimas de piadas e preconceito, que são, na realidade, bullying em diversos níveis. No entanto, esses daí não terão, jamais, um movimento de “orgulho gordo”, por exemplo. Percebem? Ora, homofobia é preconceito e se algo deve ser combatido é todo e qualquer tipo de preconceito. Isso sim seria positivo para a sociedade inteira, e não só para os homossexuais.

Por outro lado, imaginemos o mundo politicamente correto, como seria bem sem graça... O Costinha, se fosse vivo, atualmente estaria sofrendo com campanhas negativas na Internet e risco de ser linchado na rua porque sempre contava piadas que começavam: “Tinha lá uma bichinha...”, e ia fazendo seus trejeitos e tal. O povo morria de rir. O negócio é ter equilíbrio. Saber aguentar uma piada e rir de si mesmo também é uma virtude. Piada depende do bom senso de quem conta, local e público. Humilhação pode ser o resultado de uma piada sem bom senso. Enfim... Como já previa, é uma discussão que não terminará tão cedo. Vamos ver onde as coisas “vão dar” (entenderam?).

Obs: Gostaram da ilustração? Ou tá meio...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Justiça pela via jornalística


Um distúrbio de opinião. É assim que pode ser classificado um texto publicado pelo jornalista Maurício Stycer, crítico do UOL, abordando o que ele chamou de “Jornalismo Justiceiro”. Na maior parte das vezes, Stycer segue as pegadas do profeta Isaías: “Voz do que clama do deserto” no que se refere à TV brasileira. Ele representa um olhar diferenciado sobre a produção cultural eletrônica e destoa um pouco da “babaovice” de celebridades e besteiróis apelativos que essa mídia, em nosso país, produz. Mas, apesar de sua costumeira lucidez, acabou manifestando um sentimento rabugento, retrógrado e talvez, com uma ponta de inveja ao falar da reestréia do CQC, da Band, dia 14/3.

A profundidade de suas críticas foi tão nula que ficou explícita a intenção de falar mal por falar mal. O cidadão escreveu: “acho espantoso ver repórteres como Danilo Gentili, do CQC, da Band, considerarem que os entrevistados têm obrigação de falar com a mídia no exato momento em que eles desejam”. Argumento insignificante. Como se os vereadores, deputados, senadores ou quem quer que seja, não falassem com eles porque, de fato, estão atrasados ou cheios de compromissos importantes. Coitadinhos, não é mesmo? Tanta coisa pra resolver e ter que gastar 60 segundos com uma entrevista para a TV... Ora bolas, eles não falam porque ficam constrangidos, não sabem e não gostam de explicar desvios e corrupções na cara lavada, preferem um ambiente isolado da mídia e por meio de advogados.

Stycer estava inspirado e seguiu reclamando, dessa vez do repórter Elcio Coronato, do Legendários, da Record: “No primeiro programa de 2011, ele quis mostrar, em um shopping de São Paulo, que motoristas desrespeitam a reserva de vagas para idosos. Para isso, impediu, com seu próprio carro, que veículos burlando a lei deixassem o local. Dessa forma, obrigou os motoristas a ouvirem seu sermão sobre aquilo que haviam feito”. Impressão minha ou isso é exatamente o que todo mundo tem vontade de fazer numa situação dessas? O repórter estava lavando a alma dos injustiçados ao deixar bem claro ao autor do erro, e diante de todos, que é sacanagem parar na vaga se você não é idoso. O fato de um programa de TV estar fazendo isso, não sendo sua função primária, só mostra que absolutamente nenhuma autoridade o faz. Quem sabe, mostrando em rede nacional, o folgado da vaga aprenda alguma coisa. Mas não na opinião do Stycer, que acha isso erradinho.

Vida longa ao "jornalismo justiceiro"

Não satisfeito, nosso paladino da democracia, moral e dos bons costumes reclamou de outro quadro do Legendários, em relação aos cones em lugares proibidos nas calçadas, e justificou assim: “O ‘jornalismo justiceiro’ é primo de outras formas de ‘fazer justiça com as próprias mãos’. Mais que autoritário, revela o desconhecimento das regras sociais numa sociedade democrática. O desrespeito à lei não pode justificar outros desrespeitos. Jornalista não é polícia ou juiz”. Para ele, se é pra mostrar a ignorância alheia, reclamar do cone fora do lugar, ou do folgado na vaga de idosos, o certo é ir à Ouvidoria, marcar uma audiência com quem quer que seja, aguardar 30 dias, ligar para o SAC, mandar um e-mailzinho etc.

Uma coisa bem pacífica, democrática e, no mais das vezes, totalmente inútil. Para ele, os corruptos de Brasília podem e devem ficar ausentes e ignorar o contato com a mídia, devem mesmo fugir de perguntas que expõem seus desvios de caráter, exercendo a “democracia” para eles mesmos. Stycer acha que esses programas devem fingir que estamos na Noruega, no Canadá, onde tudo funciona conforme deve funcionar, e precisamos respeitar as autoridades que não nos respeitam, agir como se estivéssemos na ilha de Utopia. Fazer justiça com as próprias mãos não é uma atitude condenável em 100% das vezes, mas sim é algo que deve ser analisado em seu contexto. Se o povo não tivesse feito essa justiça, não teria havido Revolução Francesa, por exemplo. O papel de programas como CQC e Legendários é alertar a população que ela tem direitos e deve, sim, espernear para que sejam cumpridos, em todos os âmbitos. Já que as corregedorias que existem por aí não corrigem absolutamente nada. Vida longa ao “Jornalismo Justiceiro” e um pouco de colírio nos olhos do Stycer.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Vinícius aos 97 anos


Quem é fã de gente que já morreu, vive se perguntando como estaria, hoje, tal artista se estivesse ainda vivo. Como teria sido (realmente) o próximo disco de Jimi Hendrix? Renato Russo ainda estaria na Legião Urbana? E os Mamonas? Teriam continuado a fazer sucesso? Pois é... Só suposições. Em alguns casos, no entanto, a gente consegue descobrir: Vinícius de Moraes é um deles. O cara era boêmio, mulherengo, chegado num whisky (que ele chamava de melhor amigo do homem: "o cão engarrafado") e viveu um longo período de sua produção artística durante a ditadura (aliás, este era um grande pretexto para a "genialidade" de muitos músicos e letristas, pois, assim que os militares voltaram para os quartéis, nada de qualidade foi lançado por muitos ícones desse período).

Mas, voltando ao Poetinha, em uma de suas últimas entrevistas, suas expectativas ficaram claras, e são bem compreensíveis devido ao momento político vivido em 1979: "Acho que uma volta a uma democracia relativa já seria muito bom sabe! E sobretudo o povo ter liberdade - isso me parece fundamental". Ok, nesse quesito, Vinícius estaria satisfeito hoje em dia, aos seus 97 anos. A democracia brasileira vem se fortalecendo e o povo tem liberdade. Ele continua: "Quer dizer, ver as pessoas felizes, contentes, com as caras alegres, sem angústia". Bom... aí a coisa muda, afinal essa liberdade e democracia dão mais trabalho ao povo do que a ditadura, quando tudo já está decidido mesmo. As caras não estão tão alegres assim.

O ex-diplomata segue: "E, sobretudo, haver a realização, ou pelo menos um arremedo de realização, de uma organização social mais justa, com uma melhor distribuição da riqueza, uma reforma agrária legal. Isso eu gostaria de ver: os problemas sociais mais graves resolvidos ou, no mínimo, colocados num bom caminho. Isso já me daria um pouco de paz, de calma, de uma tranquilidade bastante maior do que aquela que eu tenho hoje". Na maioria desses temas, Vinícius estaria mais feliz. A renda aumentou, há um "arremedo de realização" no ar, reforma agrária ainda fica a desejar, mas alguns dos problemas mais graves estão em um bom caminho, temos mais esperança, de fato. Os sonhos de Vinícius ainda estavam distantes em 1979, mas a caravana seguiu seu rumo.

Quanto ao Hendrix, que sonhava com o dia em que a música se tornaria mais importante do que a política, parece que alguns séculos ainda serão demandados. Renato Russo, infelizmente, segue atual e seu brado: "Que país é esse?" merece ser entoado em muitas situações do cenário brasileiro de 2011. Os Mamonas? Nesse caso eles não almejavam nada específico para o mundo, mas, se quisessem apenas sucesso, iam gostar de saber que, até hoje, 15 anos depois de sumirem dos radares, nenhuma festa de karaoke termina enquanto não se canta Robocop Gay.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A fórmula básica


As viagens à Lua, a criação do Deep Blue, o acelerador de partículas, as pirâmides egípcias, o Google Street View. Todas são conquistas que a humanidade, em milênios de história, já alcançou. Mas, o avanço de tecnologias e o conhecimento científico voraz não têm, absolutamente, nenhuma relação com um possível movimento similar na psiqué do ser humano. Qualquer criança de 12 anos, hoje, sabe mais sobre a natureza e as coisas do universo do que Platão em seu tempo. Mas, isso não altera em nada a composição mental que, mesmo sem saber, ou muitas vezes admitir, está em nós.
Numa comparação simples, em relatos de dois, quatro, dez ou mais mil anos atrás, já estavam lá a ganância, corrupção, egoísmo, violência, guerras e várias outras características que, geralmente, mais atrapalham do que ajudam a humanidade. Não tivemos, em 120 mil anos de evolução, nenhum avanço nesse sentido. Está tudo aí, igualzinho.

No relacionamento entre homem em mulher, as feministas do mundo ocidental seguem lutando por um equilíbrio em direitos e reconhecimento das mulheres. Isso é bom, fundamentalmente na vida profissional. Claro, as mulheres têm as mesmas ou mais faculdades para dirigir famílias, empresas, países etc. O engraçado é que, também nisso, surgem flashes daquilo que (vai saber) realmente está na fórmula do ser humano e nunca vai mudar.

Casal 20

Um exemplo brasileiro: o “célebre” ex-casal Luana Piovani e Dado Dolabella. A primeira tem um temperamento agitadinho e tendências ligeiramente narcisistas. O segundo é um típico playboy, filho de famosos, notório por viver atrasando e prejudicando gravações em que participa, já ter dado uma machadada na mesa de entrevistas do João Gordo, batido na Luana Piovani (e a Justiça o condenou por isso), batido na camareira, e batido na ex-atual mulher. Enfim, um cara agradável. No mais recente factóide, Dado bebia com amigos num bar e Luana também foi lá.

Ao avistar o ex, segundo o site do jornal Extra, a atriz berrou: "Segurança, tira esse cara daqui, tira ele daqui! Gente, tira ele daqui!". Ao perceber que ninguém faria nada, restou a ela e seus amigos irem para outro lugar. Dado sabe que Luana frequenta o tal bar e tem o hábito de telefonar para o local na intenção de evitar um encontro, mas nesse dia, não. Esse cuidado ele toma não porque é muito legal e não gosta de brigas. E sim porque o Primeiro Juizado de Violência Doméstica Familiar decidiu que ele deve se manter pelo menos a 250 metros de distância da atriz.

Como explica o advogado Marcelo Salomão: "Se Dado estiver dentro de um avião e a Luana chegar, ele tem que sair porque ela é vítima". Talvez um pouco estranho, mas é a lei. E ele fez por merecer. Mas, onde a fórmula básica do ser humano se manifesta? No fato de que, no tal site, em uma simples observação, 99% dos comentários femininos detonam a Luana, chamando ela de mil coisas, xingando como se ela fosse uma canalha.

Uga-uga
Isso só pode mostrar que a maior parte das mulheres gosta, sim, desse tipo de homem machista, que bate em mulher, apronta todas, mas chega com charminho depois e resolve tudo na cama, igual letra de música sertaneja. Senão, como explicar essa defesa? Por que as mulheres ficam raiva da outra, que apanhou do cara? Parece dois mais dois igual a cinco! Mas, é a lógica dos hominídeos que está em nosso cerne. Lembra aquela mulher levando com uma clave na cabeça e sendo arrastada pra dentro da caverna?No fundo, é o que ainda somos.