segunda-feira, 23 de julho de 2012

Quem precisa de uma SUV?


Rotina de quem tem uma SUV...
Rotina de quem tem uma SUV...

Perguntas rápidas: será que o mundo tem mais espaço sobrando hoje do que há 50 anos? As cidades estão mais vazias hoje do que há 50 anos? Existem mais recursos naturais agora do que antes? Nem precisa pensar muito né? A resposta é não! A ocupação de espaço pelo homem não está mais ordenada ou justa a cada dia que passa, infelizmente. Como consolo, sabemos que milhares de pessoas engajadas (todos deveríamos ser) gastam energia, dinheiro e tempo para protestar e combater atitudes que não prezem pelo bom senso em relação aos rumos do planeta. 

Graças a Deus, baleias, golfinhos, araras azuis, mangues, bromélias, castanheiras, jequitibás e demais seres vivos em extinção têm que os defenda. Mas, enquanto isso, na vida urbana, outra grave praga vem agindo na contra-mão da história e da civilização: os carros grandes. É isso mesmo. Carros, os grandes. Aqui usei de eufemismo, porque na verdade estou falando de verdadeiros gigantes sobre rodas. Banheiras gigantescas, quase deformadas e desproporcionais que chegam a quase cinco metros de comprimento por dois de largura. Medidas de um razoável dinossauro triceratops. Nesses “carros” podem até caber sete pessoas, mas é quase impossível achar algum andando por aí com mais de duas. É a febre dos SUVs (Sport Utility Vehicle) que dominou corações, mentes e ruas. 

Tudo bem, tudo bem... Podem justificar dizendo que são carros para viver na cidade e também encarar terra e lama. Aham, sei. Mas afinal, todos os que têm SUV são do tipo aventureiros e vivem em terras alagadiças? Uau! O ecoturismo deve realmente estar em alta! Convenhamos, a maioria das pessoas (não entram na lista famílias realmente grandes e fazendeiros genuínos) compra SUVs por um desses três motivos: 1) Querem aparecer com uma geringonça enorme nas ruas. 2) Pretendem compensar a reduzida dimensão de algum órgão do próprio corpo. 3) Porque se rendem àquelas toscas propagandas em que o carro vem todo selvagem, abrindo picadas na mata, derrapando na lama, saltando crocodilos e pula nervoso em uma estrada asfaltada, pronto para correr em direção a uma cidade completamente vazia que está no horizonte, desenvolvendo 150 km/h (velocidade proibida até em estradas), desfilando toda sua testosterona. Realista não é mesmo? Parece piada, mas funciona pra muitos. Ok. Você gosta? Acha bonito? Tem dinheiro? É um fetiche?

Esse aí já ganhou de todo mundo
 Compre e seja mais um a ocupar quase uma faixa e meia nas já abarrotadas ruas de São Paulo. Seja mais um a impedir com seu tamanho que as motos passem livres pelos corredores. Seja mais um a impedir que a pessoa do carro estacionado ao lado tenha o direito de abrir a porta. Seja mais um a estacionar em seu prédio e deixar ou o bico ou a bunda do carro para fora, atrapalhando a passagem de todos os demais. E pra seu próprio benefício, seja mais um a rodar horas até achar uma vaga para jamantas estacionarem por aí. Sem falar que essas coisas são tão altas que, como disse um amigo meu, devem provocar vários atropelamentos e nem percebem, porque não dá pra enxergar quem está embaixo. 

Todo esse drama não é apenas a perspectiva de quem acha que certos sãos os europeus, com carros pequenos, práticos, ágeis, realmente inteligentes. As cidades realmente não precisam de SUVs (apesar de as montadoras continuarem a querer mais dinheiro) e na verdade nem quem às têm realmente precisam delas. As cidades estão superlotadas! Metrôs, ônibus, ruas, avenidas, todos temos que nos espremer em algum momento para ir de um lugar a outro. Logo, aumentar a pressão e comprar um carro do tamanho de dois só pra satisfazer o status egocêntrico é lamentável. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), São Paulo tinha, até abril, 7.259.834 veículos tentando se deslocar pela cidade, e aí vão carros normais, ônibus, caminhões, reboques, camionetas, caminhonetes, motos diversas etc.

E aí, cabe mais um... bem grande?
O Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran) diz que, na Capital, a velocidade média no horário de pico das manhãs de 1980 era de 27 km/h. Em 2008 caiu para 17 Km/h. A média anual de congestionamentos nas manhãs, em 2001, era de 71 Km. Em 2011 já chegamos a 80 km. Ou seja, continuando esse ritmo, a coisa toda vai parar de vez em uns 15 anos. 

Diante dessa maçaroca toda, enquanto movimento pró-bicicletas e ciclovias luta pra ganhar espaço e otimizar a vida no asfalto (além de contribuir com zero emissão de carbono), vem alguém e conclui: “não preciso de tanto espaço no carro, mas vou comprar um carro gigantesco assim mesmo. Tá na moda e impressiona as gatinhas”. Isso é praticamente um crime! Esse mesmo tipo de egoísmo é o que impede países ricos de abrir mão de seus lucros e investir dinheiro em países em desenvolvimento. É o egoísmo que faz as madeireiras seguirem acabando com a Amazônia e Mata Atlântica, só pensando no lucro rápido. Se você tem um SUV porque realmente cruza zonas rurais ou porque sua família é realmente grande, menos mal. Mas se você tem um desses por algum desses outros motivos, pare e pense, pelo menos: “preciso mesmo disso?”.